No horário de descanso para o almoço, entre as 12 e 14 horas, reinam na televisão baiana programas com imagens bastante indigestas. Estes programas “popularescos” entretêm a audiência com pautas policiais, denúncias, promoções e entretenimento.
É comum ver cenas gravadas em delegacias, nas quais os repórteres geralmente interrogam os suspeitos de maneira irônica e sarcástica. São mostradas também cenas de batidas policiais, cadáveres, pessoas feridas, além da exposição de conflitos familiares e de populares “cômicos” que divertem os apresentadores e a audiência.
Estes programas normalmente oscilam entre o jornalismo e o entretenimento, não podendo ser enquadrados em um gênero específico. Do ponto de vista jornalístico e acadêmico, podemos questionar a “qualidade” do conteúdo. No entanto, do ponto de vista da recepção do público, não se pode questionar.
Com uma linguagem simples, apresentadores carismáticos e verborrágicos, estes programas divertem e predominam na tarde baiana, eles já fazem parte do dia-a-dia do povo. Quem nunca escutou jargões como “o sistema é bruto", “aqui não é programa da Xuxa nem a Disneylandia”, “abra o olho jovem” ou “me poupe viu seu Varela”?
A equipe do Blog Bastidores do Jornalismo Popular (BJP) teve acesso ao IBOPE referente ao horário das 12 horas às 14 horas da tarde, dos dias 20, 21 e 23 de abril de 2010. Ao analisar os dados foi constatado como a audiência da TV Aratu e TV Itapoan, quase triplicam. Por exemplo, a TV Itapoan, às 12 h, do dia 23 de abril, tinha 5.3 pontos e pulou para o pico de 16,2 pontos às 13h23, uma subida de mais de 10 pontos, o que para os parâmetros da televisão é um número considerável. A TV Aratu partiu de 4.1 pontos às 12h para 11.3 às 13h45, subiu 6 pontos no IBOPE.
A equipe do blog BJP entrevistou a professora de jornalismo, formada pela Universidade Federal da Bahia (UFBA), Bárbara Souza, que realiza um trabalho de pesquisa sobre jornalismo popular na Bahia para tentar compreender este fenômeno. Bárbara apontou que o interesse do povo pela violência pode ser explicado do ponto de vista da psicologia, “o ser humano tem uma atração especial pelo que é mórbido, pela violência, por várias razões, entre elas a pulsão de morte, da qual Freud trata em sua obra. E esses programas apostaram e apostam nesse interesse pela violência como fórmula de atrair audiência. Infelizmente, esses programas têm conseguido audiência, fato que é usado como argumento dos seus produtores para defender o ‘sucesso’ da fórmula” explica.
Pedro Soffritti
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